8 de julho de 2010

Sem Escolha


Dia desses eu terminei de ler Múltipla Escolha, obra mais recente da Lya Luft. É um livro de ensaios, que não estou muito familiarizado, e propõe discutir os mitos modernos, como a "família feliz" ou a "ditadura do sucesso". Embora essa tenha sido a razão pela qual eu comprei, foi um outro trecho que mais me chamou a atenção, e que permitiu eu identificar o sentimento da autora com uma experiência pela qual eu passei.

Ela fala de uma ocasião em que foi homenageada com uma biblioteca penitenciária em seu nome, e que na visita para a inauguração ficou constrangida, mal mesmo, em ter de discursar para as mulheres que estavam ali.

No meu último ano de faculdade, aceitei o tema proposto por uma colega mais velha, lésbica, mãe de um filho da minha idade e já avó, para o trabalho de conclusão de curso: a Comunicação das Mulheres Internas na Penitenciária Feminina do Carandiru. Fizemos umas três ou quatro visitas, entrevistamos algumas das detentas, mas tivemos acesso apenas ao primeiro pavilhão, dos quatro existentes. Acho que era deixado assim justamente com essa finalidade, para servir de fachada, com as presas-modelo para não causar um impacto indevido - pelo menos na visão dos diretores de lá.

Eu me peguei pensando em uma dessas visitas, a terceira ou quarta que fazia, como o ambiente era até pacífico em relação ao imaginário que temos aqui fora, mas de repente me desceu uma constatação terrível. Eu iria sair de lá em minutos, pouco mais de uma hora. Algumas daquelas mulheres - que não quisesse fugir, que tenha encontrado condições de vida melhores lá dentro, enfim - ficariam lá por anos, décadas. E numa situação muito diferente daquelas que eu pude ver. É algo tão nebuloso, uma noção tão... imensa, que eu joguei o pensamento para longe na hora, mas sempre volto a ele.

Realmente, a liberdade de ir e vir, esse direito que damos por garantido... Ser privado disso é uma coisa assustadora. Eu imagino, descontados os casos patológicos, o que leva uma pessoa a cometer um crime, se ela cogita a possibilidade de parar num lugar desses. E mesmo depois de sair, reincidir no crime e voltar para lá? Isso sim é um verdadeiro inferno na terra.

Nenhum comentário: